REVISTA ÔNIBUS 78 - SETEMBRO/ OUTUBRO 2013 - FETRANSPOR
ARTIGO
RICHELE
CABRAL
Diretora de Mobilidade Urbana da Fetranspor
Diretora de Mobilidade Urbana da Fetranspor
Serviços invisíveis são sempre
muito importantes
Dentre os muitos serviços que
são invisíveis para a maioria, o planejamento de transporte é um dos mais
desafiantes. Como vários serviços públicos – distribuição de água, energia
elétrica, gás etc. –, apenas quando ocorre uma falha é que os cidadãos se preocupam com ele, ou se dão conta de sua
existência.
No caso do planejamento ligado
à mobilidade urbana, nos dias de hoje, quando as cidades encontram-se infladas,
com suas capacidades viárias saturadas e problemas como congestionamentos e
poluição fazendo parte da rotina diária, a responsabilidade dos técnicos é
enorme.
Para um evento do porte do
Rock in Rio, por exemplo, são necessários meses de planejamento e preparação da
cidade e seu entorno, aí incluída a própria conscientização da coletividade
quanto ao fato de ser imperiosa a necessidade de utilização do transporte
público para o acesso às imediações, durante todo o período de sua realização.
São necessárias reuniões multidisciplinares envolvendo agentes ligados a itens
como segurança, obras, conservação, ordem pública, distribuição de energia
elétrica, entre outros. Para que o tráfego de automóveis seja suspenso nas
imediações (ou restrito apenas a moradores), há que haver perfeita sintonia
entre representantes dos diversos modais de transporte público e autoridades
governamentais, na previsão cuidadosa de todos os detalhes que se fazem
importantes para que o sistema funcione a contento. É preciso que o público
participante seja atendido em suas necessidades de deslocamento e que as
medidas adotadas para tal não prejudiquem a mobilidade dos demais.
Providências
que não aparecem quando uma pessoa entra em um ônibus para realizar sua viagem.
A demanda gigantesca,
concentrada em determinados horários, representa enorme desafio para qualquer
cidade do mundo, sendo quase que inteiramente impossível evitar transtornos de alguma monta, como a
ocorrência de espera pelo transporte, por exemplo.
Os sistemas de transporte não
são feitos para esses casos atípicos, mas para a rotina das cidades – dias
normais, com atividades normais. Mesmo assim, nas grandes cidades do planeta há
gargalos e horários de pico, com incidência diária de retenções de todos os
níveis. A solução é privilegiar o transporte coletivo, que ocupa menores
espaços nas vias públicas para levar maior número de pessoas.
O município do Rio vive
contexto em que grandes eventos são corriqueiros, e é necessário gerenciar
essas demandas. A cada um deles, adquire-se mais experiência, que contribuirá
no planejamento do próximo. No entanto, desafios sempre irão ocorrer, e criar
soluções para eles faz parte do trabalho da equipe de Mobilidade Urbana. No
caso do Rock in Rio, foi criado, como da última vez, serviço especial de
ônibus, que funciona ao lado do sistema convencional, com os acessos fechados
ao tráfego de veículos particulares. Para tal, houve que se pensar nos locais
de estacionamento dos ônibus especiais, montando-se estrutura provisória de
terminal de ônibus tanto para o serviço especial como para o regular, com
pagamento prévio para agilização do embarque; no pagamento eletrônico das
passagens; na solicitação antecipada dos cartões; nas formas de entrega destes
aos seus adquirentes; enfim, numa infinidade de providências, das quais o
público sequer suspeita ao solicitar um cartão pela internet, pagar, receber e
usar o meio de transporte especial para chegar ao seu festival sem
contratempos.
Além de todo esse
planejamento, é necessário acompanhar a operação, para verificar dificuldades e
pontos a serem melhorados, pois, por se tratar de evento de sete dias, há como
se aperfeiçoar o serviço corrigindo possíveis falhas detectadas.
Por trás de cada viagem feita
nesses dias de mudança do perfil da demanda está o trabalho incansável de
inúmeros técnicos, sejam eles oriundos do poder público, de prestadoras de
serviço ou de entidades representantes dos operadores, como é o caso da Fetranspor
e do Rio Ônibus.
No fundo, todos torcemos para
que este trabalho permaneça invisível, pois este é o maior indicador de que
está sendo bem realizado.
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