sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Serviços invisíveis são sempre muito importantes

REVISTA ÔNIBUS 78 - SETEMBRO/ OUTUBRO 2013 - FETRANSPOR

ARTIGO






RICHELE CABRAL
Diretora de Mobilidade Urbana da Fetranspor


Serviços invisíveis são sempre muito importantes

Dentre os muitos serviços que são invisíveis para a maioria, o planejamento de transporte é um dos mais desafiantes. Como vários serviços públicos – distribuição de água, energia elétrica, gás etc. –, apenas quando ocorre uma falha é  que os cidadãos se preocupam com ele, ou se dão conta de sua existência.

No caso do planejamento ligado à mobilidade urbana, nos dias de hoje, quando as cidades encontram-se infladas, com suas capacidades viárias saturadas e problemas como congestionamentos e poluição fazendo parte da rotina diária, a responsabilidade dos técnicos é enorme.

Para um evento do porte do Rock in Rio, por exemplo, são necessários meses de planejamento e preparação da cidade e seu entorno, aí incluída a própria conscientização da coletividade quanto ao fato de ser imperiosa a necessidade de utilização do transporte público para o acesso às imediações, durante todo o período de sua realização. São necessárias reuniões multidisciplinares envolvendo agentes ligados a itens como segurança, obras, conservação, ordem pública, distribuição de energia elétrica, entre outros. Para que o tráfego de automóveis seja suspenso nas imediações (ou restrito apenas a moradores), há que haver perfeita sintonia entre representantes dos diversos modais de transporte público e autoridades governamentais, na previsão cuidadosa de todos os detalhes que se fazem importantes para que o sistema funcione a contento. É preciso que o público participante seja atendido em suas necessidades de deslocamento e que as medidas adotadas para tal não prejudiquem a mobilidade dos demais. 

Providências que não aparecem quando uma pessoa entra em um ônibus para realizar sua viagem.

A demanda gigantesca, concentrada em determinados horários, representa enorme desafio para qualquer cidade do mundo, sendo quase que inteiramente impossível evitar  transtornos de alguma monta, como a ocorrência de espera pelo transporte, por exemplo.

Os sistemas de transporte não são feitos para esses casos atípicos, mas para a rotina das cidades – dias normais, com atividades normais. Mesmo assim, nas grandes cidades do planeta há gargalos e horários de pico, com incidência diária de retenções de todos os níveis. A solução é privilegiar o transporte coletivo, que ocupa menores espaços nas vias públicas para levar maior número de pessoas.

O município do Rio vive contexto em que grandes eventos são corriqueiros, e é necessário gerenciar essas demandas. A cada um deles, adquire-se mais experiência, que contribuirá no planejamento do próximo. No entanto, desafios sempre irão ocorrer, e criar soluções para eles faz parte do trabalho da equipe de Mobilidade Urbana. No caso do Rock in Rio, foi criado, como da última vez, serviço especial de ônibus, que funciona ao lado do sistema convencional, com os acessos fechados ao tráfego de veículos particulares. Para tal, houve que se pensar nos locais de estacionamento dos ônibus especiais, montando-se estrutura provisória de terminal de ônibus tanto para o serviço especial como para o regular, com pagamento prévio para agilização do embarque; no pagamento eletrônico das passagens; na solicitação antecipada dos cartões; nas formas de entrega destes aos seus adquirentes; enfim, numa infinidade de providências, das quais o público sequer suspeita ao solicitar um cartão pela internet, pagar, receber e usar o meio de transporte especial para chegar ao seu festival sem contratempos.

Além de todo esse planejamento, é necessário acompanhar a operação, para verificar dificuldades e pontos a serem melhorados, pois, por se tratar de evento de sete dias, há como se aperfeiçoar o serviço corrigindo possíveis falhas detectadas.

Por trás de cada viagem feita nesses dias de mudança do perfil da demanda está o trabalho incansável de inúmeros técnicos, sejam eles oriundos do poder público, de prestadoras de serviço ou de entidades representantes dos operadores, como é o caso da Fetranspor e do Rio Ônibus.


No fundo, todos torcemos para que este trabalho permaneça invisível, pois este é o maior indicador de que está sendo bem realizado.

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