TROLEBUS SIM, POLUIÇÃO NÃO
Eu
concluía o meu último artigo sobre os trólebus, quando o ex-Secretário de
Transportes do Município, Marcelo Branco, ofereceu-me novos subsídios. Ele tem
acompanhado o desenvolvimento da empresa portuguesa MOBI.E – Mobilidade
Elétrica, através do seu diretor João Dias, que vem se dedicando ao transporte
urbano, individual ou coletivo, com vistas à substituição dos combustíveis por
energias limpas. E desenvolveu interessante tecnologia de minimização do
consumo de energia.
Com
efeito, o seu projeto de alimentação das baterias desses veículos prevê que os
automóveis, por exemplo, só recebam carga em horários fora de pico, mediante
programação especifica. Por outro lado, ao chegar ao seu destino, o veículo
adrede carregado conecta-se à rede elétrica predial transferindo para ela, no
horário de pico, a carga acumulada nos horários de baixo custo.
O
mesmo pode ser feito com trólebus e metrô, que ficam parados para manutenção nos
horários da madrugada. Nesse período eles podem carregar as baterias com
energia mais barata, a ser utilizada durante os horários de maior demanda.
Essa
idealização tem muitos outros frutos, como carregar as baterias de toda a frota
de veículos urbanos, incluindo automóveis, fora das horas de pico.
A
eletricidade permite “mágicas” que nem de longe estão esgotadas. Ao contrario
dos motores de combustão interna, que não evoluem há cem anos, produzindo
rotações nos eixos a partir de movimentos ondulatórios...
Enquanto
isso, diz o pesquisador Evaristo E. de Miranda (Estadão, 30/09/13) a exploração
das reservas abundantes de gás xisto rebaixou a importância do petróleo,
reduziu o preço do carvão mineral, desenvolvendo uma nova matriz de energia,
que passa ao largo das cogitações ambientais. “O chamado mercado de carbono, essencialmente europeu, veio abaixo”,
diz ele. “Sobram cotas de carbono e
ninguém se interessa. Em abril o Parlamento Europeu votou uma sentença de morte
para o mercado de carbono: rejeitou limitar as autorizações de emissões de CO2
propostas pela Comissão Europeia. Uma tonelada de CO2, que valia 30
euros, em 2008, caiu para 2,75 euros, seu nível histórico mais baixo”,
acrescentou o prof. Evaristo.
A
euforia é grande: Ernest Moniz, secretario de energia dos EUA disse, em almoço
com empresários da Confederação Nacional da Indústria, ( Valor Econômico de
20/08/13) que “há uma revolução do xisto
em curso nos Estados Unidos, que já despertou investimentos de US$ 100 bilhões
na indústria americana, derrubou as tarifas do gás e promoveu a abertura de um
milhão de postos de trabalho em meio à maior crise econômica do País, desde
1929”. “A América do Norte deverá
alcançar sua independência energética em aproximadamente uma década”.
Tais
declarações estão na mesma linha da conduta anterior dos EUA, que não subscreveram
o Protocolo de Kyoto e negaram o comparecimento do presidente americano à ECO
92, no Rio de Janeiro. A nação norte-americana, maior consumidora de petróleo e
energia do mundo, não compreendeu ainda a advertência do Cacique Seattle (1854):
“O
que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra”.
O
desapreço pelo meio ambiente, que decorrerá de uma nova política mundial da
expansão da produção de energia a partir de fontes fósseis, já tem
consequências mensuráveis e medidas, como exemplificou o jornalista Washington
Novaes, em seu artigo de 29/09/13, publicado pelo Estadão. Disse ele, apoiado
em pesquisas do dr. Paulo Saldiva, que “em
apenas um ano (2011) a poluição da atmosfera contribuiu para 17.400 mortes no
Estado”. Várias outras informações por ele colhidas reforçam os argumentos
e os esforços em favor da redução das emissões de poluentes.
É
preocupante a euforia norte-americana com a exploração do xisto e consequente
emprego no transporte, deixando em segundo plano os investimentos nas fontes
renováveis de energia. Por outro lado, é assustadora a consequência do uso dos
combustíveis de origem fóssil nas grandes cidades. Por isso, toda a atenção
deve ser dada à predominância do transporte público sobre o individual, assim
como à tração elétrica nos veículos coletivos e automóveis.
O
melhor caminho, hoje, para reduzir os malefícios da poluição é a implantação de
bons corredores, dotados de ônibus elétricos. Sim, os trólebus.
Adriano M. Branco
SP 04/Out/13
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